Filomeno
O Cubo de Gelo com medo de derreter

Filomeno era um cubo de gelo muito curioso, mas muito medroso também. Seu maior medo era o de derreter. Se cuidava muito, não tomava sol, vivia longe de coisas quentes, não corria muito para não suar...sua mãe conversava com ele: _ Filhinho, um dias todos os cubos de gelo vão virar água! Você precisa perder esse medo. Não é tão ruim assim virar água, é apenas uma transformação de gelo para água, mas você vai continuar sendo a mesma coisa. Por que tem tanto medo? E alem disso, como água, você vai conhecer lugares jamais visto aqui; Vai voar, fazer muitos amigos, descobrir o mistério do céu, do trovão, da chuva...assim como nossos ancestrais descobriram. _ Mas mamãe – respondia Filomeno - eu vou me perder.... _Não Filomeno, você não vai se perder, há um ciclo que você vai ter que percorrer, está tudo certo, e como todo ciclo, você vai voltar um dia ao lugar de onde partiu. _ Mas, e a senhora? _Eu também vou percorrer esse ciclo, vou passar por muitos lugares, conhecer outras coisas e criaturas e talvez não iremos juntos nessa viagem, mas, como eu te disse, voltaremos ao lugar de partida e nos reencontraremos... Então, numa tarde de verão em que chovia muito, lá fora, conseguia-se escutar a algazarra dos pingos de chuva! Eles brincavam, gargalhavam tanto que Filomeno teve vontade de brincar com eles e foi ao quintal. Esse foi o dia em que Filomeno virara água: uma segunda-feira. Sua mãe disse: _Então Filomeno, que tal virar água agora? Você poderia partir com os pingos d’agua que são seus amigos, eles iriam te receber muito bem e te mostrariam coisas lindas. Eu ainda não poderei ir, porque terei que instruir os seus irmãos que ainda são muito pequenos. Sentindo-se estimulado, Filomeno, despediu-se da mãe e foi com os pingos d’ água... Um pinguinho, percebendo o medo de Filomeno, saudou-o: _ “E aí “brotherzinho”, vamos nos divertir juntos no caminho desse ciclo? Não se preocupe, um dia eu também fui gelo...não precisa ter medo. E Filomeno transformou-se em água!!!Virou vários pingos de água... E eles percorreram toda a floresta, até escorrerem num rio. E nesse rio Filomeno ficou conhecendo aquelas criaturas esquisitas que respiram embaixo da água, tem os olhos esbugalhados e parecem ter asas, mas não são asas, são barbatanas. Os pingos, seus amigos lhe disseram que aqueles seres estranhos se chamavam peixes. E Filomeno ficou amigo de todos eles, perguntava tudo para eles: o que comiam, como respiravam, onde faziam xixi.... Além dos peixes, Filomeno ficou conhecendo todas as plantas aquáticas, outros serezinhos que moram dentro da água como os caramujos, as enguias, os sapinhos, etc. Até que chegou o dia em que o rio encontrou-se com o mar. Quando Filomeno viu toda aquela imensidão de azul ficou maravilhado!! Nunca imaginou conhecer tamanha magnitude!! E eles, todos os pingos, estavam indo em direção àquele azul... No mar ele conheceu outras criaturinhas muito “doces”, os golfinhos. Ele se identificou muito com os golfinhos, porque os golfinhos gostavam de brincar e ele também... Filomeno ficou muito amigo de um golfinho chamado Corió. Corió contou a Filomeno sobre uns peixes bravos chamados tubarões. E “Filo” quis conhecer tais criaturas. E lá foram eles! Ao chegar perto de uns corais, onde não haviam quase peixinhos, eles se depararam com um grupo de tubarões. Corió correu para se esconder. Filomeno ficou observando, observando... eles realmente eram maus! Atacavam outros peixes, e gostavam de sangue, e Filomeno pensou: “eles não serão eternamente maus, porque, tudo se transforma, assim como eu que era gelo e virei gotinha! Eles irão se transformar em peixes bons....” E com ESSA certeza dentro de si, Filomeno foi embora tranqüilo com Curió. Chegou o dia em que eles virariam vapor, explicaram a Filomeno tal transformação – a “evaporação”, tranquiliazando-o, porque essa era só mais uma etapa do ciclo. Filomeno estava feliz, porque conheceu todos os seres misteriosos que moram nas profundezas do oceano: luzes que se acendiam na escuridão... e ele constatou serem peixes! Cobrinhas, arraias, cavalos marinhos, peixes de todas as cores, tamanhos e formas.... enfim, evaporou...E lá no céu ele ficou emocionado com a liberdade! Como se sentia livre! Ver as arvores, os rios, os mares, as casas lá de cima, era realmente fantástico! E todas as gotinhas transformadas em vapor seguiram rumo ao Norte, lá onde o vento sopra tão friiiio.... e se juntaram, bem juntinhas se transformaram numa grande nuvem, e quase sem querer essa enorme nuvem encontrou-se com um ar quente lá... bem lá em cima....e aquela nuvem grande ficou negra e carregada de água. Ouviu-se um enorme estrondo - BRUUUMM!! E, que maravilha! Começou a chover! Todos foram caindo mansamente, alegres e orgulhosos por terem cumprido o seu papel na natureza. E o fim daquela queda era uma enorme montanha gelada. Assim, voltaram a se transformar em gelo novamente! Filomeno ficou pensando no dia em que saiu de casa e lembrou das palavras de sua mãe: voltamos ao lugar de origem e todos nos reencontraremos um dia... Filomeno estava feliz, muito feliz, sabia que mais cedo ou mais tarde, sua mãe iria chegar!

Fernanda Aparecida Corrêa
Araçatuba-SP

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