O Espiritismo Ante A Ciência e a Religião
Os dias de hoje, em que a Ciência marcha a passos acelerados,
são vividos, por todos aqueles que crêem em alguma coisa além daquilo
que se pode medir, pesar e submeter a experimentos, numa,
por assim dizer, batalha constante para manter em pé
suas concepções metafísicas, diante das arremetidas do
cientificismo materialista.
Talvez mais do que nunca, os progressos da Ciência fazem estremecer
os bastiões da Religião, pois que aquela, bafejada por concordâncias
aparentemente inquebrantáveis, vai apresentando fatos que
destroem as revelações desta.
No campo das atividades organizadas pelo homem,
nota-se uma antinomia irreconciliável entre Ciência e Religião.
Salvo as raras exceções, os cientistas se cobrem de vanglórias
toda a vez que, em virtude de suas descobertas,
esmagam os artigos da fé religiosa dogmática e os religiosos,
por não poderem desmentir as verdades reveladas pela Ciência,
procuram, num esforço de sobrevivência da religião,
confundir as afirmativas daquela,
para confirmar a supremacia das suas.
Reduzidos os termos — Ciência e Religião — a Matéria e Espírito,
depara-se-nos um espetáculo contristador:
a guerra entre espírito e matéria.
É verdade que nem sempre foi assim.
Houve tempo, a contar dos princípios da história da Humanidade,
em que a religião dominava amplamente, sendo as Escrituras
ao mesmo tempo compêndios científicos e códigos jurídicos.
Mas os religiosos não souberam compreender as revelações
transcendentais, especialmente o seu aspecto progressivo,
e buscaram cristalizar, imobilizar, como se já tivessem alcançado
o Infinito, os conhecimentos que lhes eram transmitidos.
A Lei, é claro, não tomou conhecimento disso.
E enquanto a Religião estagnava, mercê das interferências humanas,
a Inteligência se movimentava, crescia, agigantava-se,
e com isso ia devassando os segredos da Natureza.
Cumpria-se o “nada está oculto que não venha a ser manifesto;
e nada foi escondido, que não haja de ser divulgado”.
Mais uma vez, porém, o homem não soube interpretar as mensagens
que desvendava na pesquisa científica.
Despindo o hábito religioso, vestiu o avental do cientista iconoclasta,
e, longe de buscar entender as revelações religiosas à
luz das verdades científicas, encastelou-se no negativismo arrogante,
passando a deprimir os templos da Fé e a exaltar os templos da Ciência.
E hoje, em nome da fé científica, procura-se matar a fé religiosa.
Podemos dizer, pois, que o mundo vive a época do predomínio da Ciência.
E as verdades por esta demonstradas são tão assombrosas,
que o homem, embriagado pelo ascendente que vai adquirindo sobre
as forças naturais, volta, por outros caminhos, à egolatria,
crente de que, com a desagregação da matéria,
conseguiu o domínio sobre o Universo!
Tem vivido a humanidade, asssim, até hoje,
um duelo formidando entre Espiritualismo e Materialismo.
E visto que a grande maioria daqueles que se
intitulam “espiritualistas” timbram em viver como se fossem materialistas,
poder-se-ia temer que, afinal, a vitória definitiva coubesse à Ciência,
isto é, àquela ciência que procura demonstrar a
inexistência do Espírito.
Mas a Lei não se deixa surpreender.
E ela, que é a Verdade, teria que reajustar as coisas,
fazendo que fossem compreendidas e amalgamadas as
verdades religiosas (reveladas) e as verdades científicas (desvendadas)
Eis porque, há cem anos, funcionou mais uma vez a
revelação transcendente:
acendeu-se, no seio da Humanidade, a luz do Espiritismo!
E a doutrina trazida pelos Espíritos tem como traço marcante
fundir Ciência e Religião;
com ela e por ela,
a Ciência se torna religiosa e a Religião passa a ser científica.
Soou a hora em que os homens são convocados a perceber que
Ciência e Religião, em nosso estágio evolutivo,
não são outra coisa que facetas de uma só e única Verdade.
Força é reconhecer, todavia, que, nesse entrechoque de
Ciência e Religião, a primeira soube encontrar melhores caminhos,
pois foi no clima de livre pesquisa por ela implantado
que o homem pôde vir a vislumbrar, por exemplo,
na observação dos fenômenos biológicos,
a trama maravilhosa da evolução dos seres vivos,
lançando as bases de uma das mais revolucionárias
concepções descortinadas ao gênero humano.
Mas o Espiritismo, como religião,
e religião que convida os homens a pensar,
vem em benefício da Ciência, adicionando-lhe os condimentos
de espiritualidade que lhe aqueçam e aprimorem os conceitos,
ao mesmo tempo em que nela encontre apoio para suas afirmativas.
Da simbiose perfeita das duas brota o continuísmo da evolução infinita,
a se desdobrar em dois planos, o visível e o invisível.
E como confirmação interativa do que acabamos de enunciar,
vem de surgir, da lavra do Espírito que entre nós se fez
conhecido pelo pseudônimo de André Luiz, um livro,
a que não chamaremos novo porque é mais do que isso;
é quase, diríamos, insólito.
Insólito para os espiritistas, assim como para os cientistas que o lerem.
Seu título:
“Evolução em dois Mundos” é um convite ao raciocínio avançado,
a levar a criatura humana a descortinar os horizontes da imortalidade,
apercebendo-se do mecanismo grandioso da evolução,
a processar-se ininterruptamente na seqüência alternada de
vida e “morte”, de vida encarnada e vida desenfaixada da carne.
Para os espiritistas, a obra vem solidificar a sua convicção religiosa,
realçar a magnificência da Doutrina.
E ela se destina, a nosso ver, de preferência aos que não aceitam
as teses do Espiritismo, especialmente àqueles que,
por conferirem primazia ou exclusividade aos postulados científicos,
repelem as explicações que não sejam extraídas das
provas de laboratório.
O próprio Autor espiritual, no pórtico de seu livro, cita,
entre outros, o seguinte conceito de Allan Kardec,
constante de “A Gênese”:
“O Espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente;
a Ciência, sem o Espiritismo, se acha na impossibilidade de
explicar certos fenômenos só pelas leis da matéria;
ao Espiritismo, sem a Ciência, faltariam apoio e comprovação”.
Dentre os aspectos novos da obra que apreciamos,
destaca-se o de ter André Luiz mobilizado dois médiuns:
um em Pedro Leopoldo — Francisco Cândido Xavier;
outro em Uberaba — Waldo Vieira, ditando-lhes alternadamente,
em dias determinados de cada semana, as suas mensagens,
que se encadeiam perfeitamente, formando a harmonia do conjunto.
A outra faceta nova deste livro é que André Luiz não usa
aquele estilo narrativo de todas as suas obras anteriores.
Em vez disso, e com a mesma fluência de sempre,
ele faz uma exposição maciça, embora sintética, de fundo científico.
Com que objetivo? Ele mesmo o explica, em sua “Nota ao leitor”,
ao declarar que as páginas que escreveu buscam
“(...) aliar o conceito rígido da Ciência, compreensivelmente armada
contra todas as afirmações que não possa esposar pela experimentação
fria, e a mensagem consoladora do Evangelho de Jesus Cristo
de que o Espiritismo contemporâneo se faz o mais alto representante
na atualidade do mundo...”
Essa destinação do Espiritismo,
de aliar fé e razão, de conjugar ciência e religião,
tornou-se evidenciada desde a primeira hora.
Kardec foi inspiradamente claro ao elaborar a Codificação.
E a literatura espírita, quer da lavra de encarnados,
quer de desencarnados, tem insistido nesse ponto.
No tocante à tese fundamental do novo livro de André Luiz,
vale a pena citar uma passagem da obra de autoria do
Dr. Antônio J. Freire, intitulada “Ciência e Espiritismo”:
“O Transformismo e o Espiritismo, talvez antagônicos aparentemente
dentro das escolas positivista e materialista, só, no entanto,
substancialmente termos complementares, intimamente ligados
na correlação indissolúvel que une a forma à vida no
panvitalismo universal.
Só pela ação dum dinamismo psíquico, ainda que rudimentar,
podem ser preenchidas as lacunas e resolvidas as incógnitas que
ainda obscurecem alguns problemas do transformismo:
- quer fisiológicos, desde a própria origem das espécies e
da histólise dos insetos até as transformações bruscas criadoras
das novas espécies (mutações de Vries);
quer de ordem psicológica, como demonstrou Fabre para os instintos
dos insetos; quer, ainda, de ordem filosófica,
fazendo o transformismo “sair máximo do mínimo,
o complexo do elementar”, como justifica o Dr. G. Geley na
sua obra magistral — De I’Inconscient au Conscient”.
Emmanuel, o seguro mentor espiritual do nosso Chico Xavier,
em seu livro “O Consolador”, já havia abordado, sem rebuços,
esse pormenor.
Foi assim que, respondendo à pergunta nº 35
—A genética está submetida a leis puramente materiais?
Ele afirmou:
“As leis da genética encontram-se presididas por numerosos agentes
psíquicos que a ciência da Terra está longe de formular,
dentro dos seus postulados materialistas.
Esses agentes psíquicos, muitas vezes, são movimentados pelos
mensageiros do plano espiritual, encarregados dessa ou daquela
missão junto a correntes da profunda fonte da vida.
Eis por que, aos geneticistas, comumente se deparam incógnitas
inesperadas, que deslocam o centro de suas anteriores ilações”.
Não se creia, pois, que André Luiz, no seu novo livro
“Evolução em dois Mundos”, tenha ferido uma tecla desconhecida
dos espiritistas.
Para estes, confirmando o que se encontra registado em outras obras,
ele vem trazer maior soma de esclarecimentos,
evidenciando com isso que também a evolução da intelectualidade humana
sofre fecundação dos agentes da Espiritualidade Superior.
Para aqueles que fazem repousar no cientificismo materialista
a base de suas concepções da vida, o livro é uma prova daquela
ousada afirmativa de Allan Kardec, ainda em “A Gênese”,
de que o materialismo pode ver por aí que o Espiritismo,
longe de temer as descobertas da Ciência e o seu positivismo,
vai além e os provoca, por ter certeza de que o princípio espiritual,
que aliás possui existência própria, não pode com isso sofrer.
Mencionaremos, atinentes às considerações que ora tecemos,
os títulos de alguns capítulos dessa nova obra de André Luiz,
que valem por primícias daquilo que se vai encontrar em seus textos:
“Evolução e corpo espiritual”
“Evolução e sexo”
“Evolução e hereditariedade”
“Evolução e metabolismo”
“Evolução e cérebro”
É uma obra que nos introduz no fascinante e profundo campo da Biologia,
mas daquela que é realmente a Ciência da Vida.
Uma obra para quem tem “olhos de ver”.
(Transcrito de REFORMADOR, de julho de 1959.)
Fonte:
Responsável pela transcrição: Wadi Ibrahim
A. Assis
Reformador nº1984 – Julho/1994
Fonte: Universo Espírita
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